Deputada quer prisão de até 4 anos para quem xingar político corrupto, semelhante as leis de Cuba, Nicarágua e Venezuela


Vladimir Chaves



Proposto pela filha do ex-deputado Eduardo Cunha, o Projeto de Lei 2.720/23 quase teve um requerimento de urgência votado na Câmara esta semana. A proposta da deputada federal, Dani Cunha (União-RJ), propõe prisão e multa para quem xingar políticos, principalmente, aqueles que estiverem enfrentando algum processo na Justiça.

O requerimento de urgência só não avançou por falta de consenso entre os líderes, na última terça-feira (6). O projeto foi protocolado em abril.

Após acordo com as lideranças para que a votação do requerimento fosse simbólica - quando não é possível identificar o voto individual - o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), liberou a votação, mas a matéria saiu da pauta depois que os partidos Novo, Psol e PCdoB pediram votação nominal. 

Segundo o texto proposto pela filha de Eduardo Cunha, quem ofender políticos denunciados ou mesmo condenados em processos que ainda estejam tramitando poderá pegar de dois a quatro anos de prisão e ser condenado ao pagamento de multa.

Dani Cunha também quer que as instituições bancárias impeçam a abertura ou movimentação de contas para quem ofender políticos. Esse tipo de punição é aplicada contra acusados de corrupção, tráfico de drogas e terrorismo.

O pai da autora da proposta, o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), foi condenado a mais de 55 anos de prisão em três processos por corrupção e lavagem de dinheiro.

No fim de maio deste ano, a exemplo de outras decisões que descondenaram políticos e empresários envolvidos na Lava Jato, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou uma sentença que havia condenado Eduardo Cunha por recebimento de propina.

Ao justificar o projeto, Dani Cunha defende o princípio da presunção de inocência e da igualdade. A deputada, porém, não cita prerrogativas que tornam os políticos quase intocáveis, a exemplo do foro privilegiado.  

“A discriminação praticada em virtude tão só da posição política ou por se encontrar na situação de parte em processo judicial precisa ser expurgada da nossa sociedade, prestigiando as proteções fundamentais concedidas pela Carta Maior”, diz um trecho da justificativa.

Reação

Ao comentar sobre o caso, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) disse enxergar algo muito pessoal na proposta, já que o pai da autora foi duramente criticado pela população na época em que foi preso pela Lava Jato.

“Sou a favor da liberdade de expressão total e irrestrita como está na nossa Constituição. E, já tem dispositivos na nossa legislação para punir quem difama, quem calunia… Quem se sentir vilipendiado tem de buscar os seus direitos nos dispositivos já existentes”, disse o senador ao conversar com o BSM.

Para o advogado Fernando Lobo, a proposta apresentada por Dani Cunha é uma “piada” e um “absurdo”.

“Os poderes constituídos podem ser criticados por quaisquer cidadãos porque eles são serviços publicos e os titulares, mesmo os que têm cargos eletivos, são servidores públicos. Estamos, hoje, vítimas de uma escravidão do estado. Transformaram o cidadão em escravo sem direito à crítica. É um absurdo, funcionário público não pode mais ser criticado? É uma piada”, disse o advogado ao BSM.

Lobo avalia, inclusive, que a proposta abre caminho para censura à imprensa, uma vez que a simples notícia ou publicação de artigo sobre um determinado processo pode ser usado como justificativa para que um político se sinta ofendido e processe o jornal.

O projeto da filha de Cunha flerta com medidas semelhantes adotadas em ditaduras como Cuba, Nicarágua e Venezuela, onde opositores do regime são perseguidos, presos e torturados.


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