O Itaú Unibanco (ITUB4),
um dos credores da Americanas (AMER3), rebateu a tentativa da empresa de
atribuir aos bancos a responsabilidade sobre os problemas de contabilidade do
grupo varejista, que entrou em recuperação judicial na última quinta-feira
(19), com dívida de R$ 43 bilhões. Mais tarde, o Bradesco (BBDC4) também
divulgou comentário com argumentos similares.
Nas últimas semanas, os
principais bancos privados do país travam uma batalha jurídica para reaver
recursos emprestados, às vésperas do início da safra de balanços de 2022,
quando os NPLs (dados da inadimplência) devem virar um dos principais pontos de
atenção dos analistas, em busca de sinais de deterioração da qualidade de
crédito das carteiras, após terem ouvido, no fim do ano, prognósticos de
estabilização dos indicadores de atrasos e de provisões ao longo do primeiro
semestre de 2023.
“É leviana a tentativa de
atribuir aos bancos qualquer responsabilidade sobre as práticas contábeis
irregulares da empresa”, disse o maior banco do país em nota nesta terça-feira
(24).
A instituição financeira
apontou a diretoria e o conselho de administração como responsáveis pelos
balanços da companhia, que tem Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos
Alberto Sicupira, três dos empreendedores mais bem-sucedidos do país, como
acionistas de referência.
“A elaboração e aprovação
das demonstrações financeiras que espelhem a realidade da companhia são
responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa, incluindo sua
diretoria e seu conselho, e sem nenhuma influência dos bancos ou outros credores”,
disse o Itaú Unibanco.
A rara nota emitida pelo
banco, que não costuma se pronunciar em casos pontuais, é mais um sinal da
relevância e da importância que ganhou o caso, um dos maiores escândalos
corporativos da história do país. A estimativa é que a dívida com os bancos
chegue a R$ 18,5 bilhões, segundo o Valor Econômico.
O Itaú Unibanco também
disse na nota que o Banco Central também tinha conhecimento das operações
envolvendo a Americanas.
“As cartas de
circularização são apenas um instrumento, dentre muitos, que apoiam a auditoria
no trabalho de verificação das informações fornecidas pela administração, e
foram respondidas conforme as melhores práticas de mercado. Os saldos das
operações também sempre foram reportados no Sistema Central de Risco, mantido
pelo Banco Central”, apontou a nota.
O trio que comanda também
a 3G Capital, Lemann, Telles e Sicupira, fez referência a esses documentos na
nota divulgada no último domingo (22), em sua primeira manifestação pública
sobre o caso.
“Contávamos com uma das
maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC.
Ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para
confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo
os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições
financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade”, citava a nota
da 3G Capital, em que negaram responsabilidade pelo rombo.
Bradesco
Maior credor em “risco
sacado”, o Bradesco também divulgou nota com conteúdo semelhante ao de seu
concorrente, rebatendo “narrativas” alegadas pela Americanas sobre seus
problemas contábeis.
“Não compactuamos com
alegações que buscam criar narrativas para atribuir aos bancos qualquer
responsabilidade sobre as práticas contábeis irregulares da empresa e, assim,
desviar a atenção do problema central, ou seja, a falta de consistência dos
números das demonstrações financeiras e as responsabilidades dos seus
dirigentes sobre tal fato”, apontou a nota do Bradesco.
O banco de Osasco
acrescentou que a governança contábil das empresas é “atribuição exclusiva e
não transferível da sua administração, inclusive conselho de administração”.
Desde o anúncio de um
rombo contábil de R$ 20 bilhões, há quase duas semanas, no último dia 11,
alguns dos maiores bancos do país, que são credores, travam uma batalha
judicial com a Americanas, para resguardar seus interesses e acelerar a
execução dos vencimentos da dívida.
A varejista decidiu buscar
proteção legal, primeiro com uma liminar e, depois, com um pedido de
recuperação judicial, para manter as operações em funcionamento.
Na segunda-feira (23), os
bancos Santander (SANB11) e Safra, também credores da Americanas, pediram à
Justiça que suspenda as garantias obtidas pela Americanas na aceitação do seu
pedido de recuperação judicial. O pedido do Safra foi negado na terça.
A Americanas tem um total
de 16.300 credores segundo o pedido de recuperação judicial. O BTG Pactual
(BPAC11), o primeiro a entrar na justiça para executar a dívida, considerou que
a gestão da varejista agiu de “má-fé” no que chamou de “maior fraude do mercado
acionário brasileiro”.
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