Margaret Thatcher
enfrentou os sindicatos ingleses para poder modernizar o país; precisamos de
alguém com a mesma coragem para libertar as escolas dessas associações.
Se alguém tinha alguma
dúvida, a quarentena provou: os sindicatos de professores são o grupo de
pressão que mais prejudica a educação pública brasileira. A insistência em
manter as escolas fechadas mostrou que eles não consideram a educação um
serviço essencial. Não se preocupam com o desempenho dos alunos, não ligam para
a necessidade das crianças conviverem entre si. Enquanto a Europa e a Ásia
fecharam bares e mantiveram escolas abertas, o Brasil fez o contrário. Foi o
país que mais interrompeu as aulas presenciais – ao lado de Angola e Iraque.
Casos de depressão infantil explodiram, mães tiveram que largar o trabalho
porque não tinham com quem deixar os filhos. A Unicef emitiu um alerta
afirmando que “o fechamento das escolas atinge principalmente crianças
marginalizadas, que correm perigo de perder aprendizado, sistema de suporte,
alimentação e segurança”. A OMS informou que um estudo com 191 países não
mostrou relação entre abertura das escolas e taxas de infecção. Quatrocentos
pediatras brasileiros assinaram um manifesto pedindo volta das aulas para o bem
da saúde mental das crianças. Mas, para a presidente da Apeoesp, sindicato dos
professores das escolas públicas de São Paulo, “falar em volta às aulas agora é
só para agradar aos empresários da educação”.
Não deveria, mas parece
loucura esperar algum heroísmo dos sindicalistas. “Entendemos o perigo da
doença, mas decidimos correr o risco porque não podemos deixar os estudantes
brasileiros na mão”, diriam num mundo imaginário distante. “As crianças não
podem continuar sendo penalizadas.” Esse comportamento egoísta não é exclusivo
da pandemia. Em São Paulo, estado com o melhor índice educacional do Brasil,
metade dos formados no ensino médio na rede pública não sabe fazer uma simples
regra de três, segundo o Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado
de São Paulo) de 2017. O sistema consome bilhões de reais dos pagadores de
impostos, consome uma década dos jovens e, no final, não consegue ensinar a
eles uma simples regra de três. Um primeiro passo para reverter essa situação
seria bonificar os professores cujos alunos têm as melhores notas. Seria um
incentivo para se preocuparem com o desempenho. Mas os sindicatos são contra.
Todo mundo concorda que a
educação brasileira é uma lástima, por isso é urgente tentar novos modelos. Um
deles é o de voucher: transmitir os recursos da educação direto aos pais dos
alunos, para que eles escolham a escola que preferem. Outro é optar por
“charter schools”, escolas mantidas por entidades sem fins lucrativos e
bancadas com dinheiro público. Mas os sindicatos são contra. Quando o deputado
Tiago Mitraud tentou destinar apenas 5% do dinheiro do Fundeb para entidades
filantrópicas, sindicatos (sem falar na imprensa e na esquerda em geral)
ficaram histéricos. Como se o atual sistema não precisasse de alternativas ou
inovação. “Até quando seremos reféns dos
sindicatos docentes”, pergunta Anamaria Camargo, consultora em políticas
educacionais, em artigo recente publicado no site do Instituto Libecracia. É
exatamente esse o problema: deixamos os grupos de pressão se apropriarem da
educação pública. Na Inglaterra dos anos 1980, Margaret Thatcher enfrentou os
sindicatos de mineradores, entre outros, para modernizar o país. Precisamos de
alguém com coragem suficiente para nos libertar dos sindicatos de professores.
Leandro Narloch (Artigo publicado
originalmente no site jovempan.com.br)
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