Feira Central de Campina Grande é novo Patrimônio Cultural do Brasil


Vladimir Chaves

Na tarde dessa quarta-feira, dia 27 de setembro, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural deliberou, em sua 87ª reunião, sobre o Registro da Feira de Campina Grande, que passa então a ser reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial. O pedido de reconhecimento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi feito formalmente há dez anos, em uma articulação entre a Prefeitura Municipal de Campina Grande e grupos de feirantes e fregueses. A partir daí, foi iniciado um intenso processo colaborativo de diálogos e pesquisas, que agora reúne as principais referências culturais presentes na Feira campinense, além de propostas para sua salvaguarda.

Essas propostas são entendidas como fundamentais, pois a Feira de Campina Grande foi mudando de lugar ao longo do tempo, desde seus primeiros caminhos, ainda no século XVIII. Crescendo em importância e dimensões, o espaço da feira passou também a ser objeto de interesse de propostas de requalificação urbana, que deverão, a partir do Registro, ser conduzidos conforme as necessidades das pessoas que a vivenciam diariamente em diálogo com as ações de salvaguarda.

Cerca de 75 mil metros quadrados dão a base da Feira de Campina Grande, que se amplia para além de seus limites, entre ruas e barracas, nos dias de mais movimento. De segunda a sábado, o movimento caótico de pessoas e mercadorias atrai pelo tamanho, relevância e diversidade. É por isso que se diz que tudo o que se procura é possível encontrar na Feira. Frutas, hortaliças, cereais, ervas, carnes, animais (vivos ou já abatidos), roupas, flores, doces, artesanato, acessórios para pecuária, comida regional e um extenso leque de serviços, que trazem consigo os personagens que dão vida ao lugar: seleiros, mangaieiros, flandreleiros, barbeiros, balaieiros, raizeiros, fateiros – e tantos outros mestres, com seus saberes e ofícios tradicionais.

Para além do comércio intenso, a Feira de Campina Grande é também um lugar de referência, de criação, de expressão, de sociabilidade e de identidade do povo nordestino. As trocas mercadológicas se misturam às trocas de significados e sentidos, tornando-a um lugar onde se concentram e reproduzem práticas culturais. É ali entre as raízes que curam tudo, entre os pratos de buchada e copos de gelada de coco, entre os gritos das ofertas e o cantar do galo, que também se anunciam as novidades, que desabafam os amigos, que rezam os crentes, que se criam as rimas. E a Feira campinense continua ressoando no cantar dos emboladores de coco, dos repentistas, forrozeiros, cordelistas, violeiros e tantos outros artistas, que fazem da Feira palco das manifestações culturais e tradições de sua terra.

De geração a geração, os saberes e experiências dos feirantes vão sendo transmitidos a filhos, netos e bisnetos, assim como os espaços de comercialização. Herdados como verdadeiros legados familiares, os ofícios vão representando a história daqueles personagens, que dedicam sua vida à Feira e que, por isso, têm nela sua referência fundamental. Sua história é atrelada à dos fregueses, dos produtos e das negociações e Campina Grande vai se tornando ainda maior, pela continuidade de suas tradições culturais.

O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Os processos de tombamento e registro promovidos pelo Iphan são avaliados pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo são 23 conselheiros, que representam o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.


O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural é o órgão colegiado de decisão máxima do Iphan para as questões relativas ao patrimônio brasileiro material e imaterial. O mais recente marco legal sobre a estrutura organizacional do Iphan, o Decreto nº 6.844, de 07 de maio de 2009, mantém o Conselho como o responsável pelo exame, apreciação e decisões relacionadas à proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro, tais como o tombamento de bens culturais de natureza material, o registro de bens culturais imateriais, a autorização para a saída temporária do país de obras de arte ou bens culturais protegidos, na forma da legislação em vigor, além de opinar sobre outras questões relevantes.

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