O empresário Marcelo
Odebrecht afirma em sua delação premiada que o ex-ministro da Fazenda Guido
Mantega lhe pediu arcasse com despesas de R$ 57 milhões para comprar o apoio de
sete partidos (PROS, PDT, PRB, PCdoB, PSD, PP e PR) que fizeram parte da chapa
formada por Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014. No início de março, em
depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral, os delatores da empreiteira já
haviam confirmado repasses de cerca de R$ 30 milhões a PROS, PDT, PRB e PCdoB
para garantir à chapa Dilma-Temer tempo maior no horário eleitoral gratuito de
TV e rádio, mas, no depoimento à Lava Jato, Marcelo Odebrecht revela que o
esquema era mais amplo.
Segundo o relato de
Marcelo, o ex-ministro já lhe apontou com quem deveria ser tratado cada
assunto. Os repasses deveriam ser combinados com Eurípedes Júnior (PROS),
Carlos Lupi (PDT), Marcos Pereira (PRB), Fábio Tokarski (PCdoB), Antonio Carlos
Rodrigues (PR), Ciro Nogueira (PP) e Gilberto Kassab (PSD). O ex-presidente da
Odebrecht disse que dois ou três dias após o pedido inicial recebeu um telefone
de Mantega lhe perguntando se tinha resolvido todos os casos. Marcelo disse que
ainda não tinha conseguido. Mantega, então, lhe disse que não precisava mais
pagar para PR, PP e PSD.
“No fundo eu entendi o
seguinte, que era uma obrigação da candidatura Dilma de bancar em certo
montante os outros partidos. No final das contas não consegui (o dinheiro) a
tempo, aí eu fui, voltei na segunda com Guido e disse: “Não deu”. Ele disse:
“Eu já resolvi 37”. Por isso que nas minhas notas (do celular apreendido) está
cancelado. O PR, o PP e o PSD, que eram R$ 37 milhões originais, ele resolveu
com outra empresa ou alguém, ele não me falou. Então alguém pagou esses 37”,
diz.
Assim coube à Odebrecht
pagar R$ 20 milhões para PROS, PDT, PRB e PCdoB. Marcelo ressalta ainda que
houve outro pedido depois de mais R$ 4 milhões para o PCdoB. O executivo conta
que o pedido foi feito em uma reunião entre maio e junho de 2014, às vésperas
das convenções nas quais os partidos definem seus candidatos. O pedido foi
feito após Marcelo lhe dizer que tinha dificuldade de movimentar dinheiro
devido ao início da Operação Lava-Jato.
“Vamos ver se consegue
doar para os partidos. Segundo ele, quando fechava apoio a partidos, você se
comprometia, a presidente se comprometia a apoiar esses partidos no fechamento
dos partidos da coligação. Escutei valores de toda e qualquer natureza, de até
100, 200, mas isso não posso precisar’, disse o ex-presidente da Odebrecht.
Ele conta que, após o
pedido de Mantega, tratou do tema com Edinho Araújo, tesoureiro da campanha, e
Alexandrino Alencar, ex-diretor da empresa.
“O primeiro pedido dele
para mim foi de R$ 57 milhões para atender a essas pessoas. Aí, eu sai da
reunião. Aí sentei eu, Edinho e Alexandrino. Eu falei, Edinho, veio esse
pedido. Edinho sabia desses compromissos e o Alexandrino tinha que
operacionalizar”, afirmou .
Marcelo disse que o ano de
2014 foi muito ruim porque a empresa teve várias pendências com o governo. Ele
diz que chegou a fazer um texto com vários problemas que a empresa tinha
enquanto doava milhões para a campanha. Afirma que mostrou as anotações, que
tinham entre 5 e 7 páginas de texto, para Dilma, Mantega e Edinho.
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