Sem qualquer
constrangimento, senadores sob suspeita escolherão na próxima semana o novo
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Na prática, parlamentares com
problemas na Justiça ou ameaçados pela Operação Lava Jato terão o privilégio de
definir o próprio juiz. Mais da metade do Senado que votará em plenário a
indicação de Alexandre de Moraes está na mira da mais alta corte do país. Pelo
menos 44 dos 81 integrantes da Casa respondem a acusações criminais no próprio
Supremo ou enfrentam a desconfortável situação de figurar nas delações ou
planilhas da Odebrecht – e, por isso, estão a um passo de terem de se explicar
à Justiça.
Levantamento do Congresso
em Foco revela que pelo menos 34 senadores são alvos de inquérito (investigações
preliminares) ou ação penal (processos que podem resultar em condenação) por
diversos crimes, como corrupção, lavagem de dinheiro, contra a Lei de
Licitações e o meio ambiente. Oito já são réus. Um deles já poderia estar na
cadeia. Condenado pelo próprio Supremo a quase cinco anos de prisão, em agosto
de 2013, por fraude contra a Lei de Licitações, Ivo Cassol (PP-RO) continua em
liberdade e no exercício do mandato, participando de algumas das principais
decisões do país. Desde dezembro de 2014 o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, pede o início do cumprimento da pena. O senador está pendurado
em um recurso cujo julgamento poderá ser definido pelo próprio Alexandre de
Moraes.
Também vão participar da escolha
do novo ministro 13 senadores investigados na Operação Lava Jato. Na última
terça-feira (14), Moraes se reuniu com a bancada do PMDB em busca de votos. Foi
recebido pelo novo líder, Renan Calheiros (AL), que acaba de deixar a
presidência da Casa carregando uma dezena de inquéritos da Lava Jato, apontado
como beneficiário do esquema de corrupção em estatais. No mesmo dia, o
candidato também se encontrou com o senador Fernando Collor (PTC-AL), outro
denunciado na operação.
Delatados
Entre os eleitores do novo
ministro também estão potenciais integrantes da bancada do petrolão. Ao menos
22 senadores já tiveram o nome citado por executivos e ex-dirigentes da
Odebrecht. Desses, nove ainda não respondem a qualquer processo. Entre eles, o
novo presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Um dos executivos da
empreiteira afirma que “Índio”, apelido dado ao peemedebista, recebeu cerca de
R$ 2,1 milhões em propinas entre outubro de 2013 e janeiro de 2014 em troca de
apoio a uma medida provisória de interesse do grupo.
Ainda sob análise na
Procuradoria-Geral da República, a delação da Odebrecht é a maior já feita no
país e tem potencial explosivo para sacudir os três poderes. Os estilhaços dela
ameaçam o presidente Michel Temer, alguns de seus principais ministros, figuras
centrais do governo Dilma e a cúpula do Congresso. Responsável pela indicação
de Alexandre de Moraes, Temer é citado pelo menos 43 vezes na delação do ex-vice-presidente
de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho. Ele diz que o
presidente pediu e recebeu R$ 11 milhões da empreiteira para a campanha
presidencial de 2014. O peemedebista alega que o dinheiro foi legal e declarado
à Justiça eleitoral.
Site Congresso em Foco
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