Trabalhador rural carrega cruz por 120 km até o Palácio do Planalto para pedir Fies


Vladimir Chaves

Um produtor rural de Alexânia (GO) iniciou um "protesto solitário" na manhã desta segunda-feira (3) em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, para pedir financiamento estudantil para a filha de 22 anos. Francisco Cândido Neto, de 52 anos, saiu de casa na última quinta (30) e diz ter percorrido os 120 quilômetros desde a cidade goiana a pé, carregando uma cruz de madeira e uma mochila com itens de sobrevivência.

Ele afirma que vai ficar sem se alimentar até garantir os estudos da filha, que cursa medicina em uma faculdade particular de Araguari (MG). A mensalidade na Imepac custa mais de R$ 5 mil, segundo ele, mas a família não conseguiu inscrição no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

A estudante, Bruna Larissa Vitti Candido, afirmou por telefone que tenta diariamente se inscrever no site do Fies, sem sucesso. Segundo ela, a secretaria da Imepac afirmou que não está abrindo vagas pelo financiamento porque estaria com repasses atrasados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável pelo programa.

O diretor-executivo da Imepac, José Júlio Lafayette, afirma que a faculdade realmente tem verbas a receber do governo federal, mas diz que a instituição abriu vagas para o Fies em março deste ano. Segundo ele, a dificuldade de Larissa pode estar relacionada à mudança nas regras do financiamento em junho, quando o processo seletivo da faculdade já tinha sido realizado. Ele afirmou ainda que a Imepac ofereceu à estudante o trancamento da matrícula até que a situação seja resolvida, mesmo com faturas em atraso.

"Está sendo uma cruz conseguir ajuda do governo. Prometi a mim mesmo que não saio do Planalto até o dia que minha filha voltar para a escola. O dia que a minha filha falar que está autorizada a entrar para estudar, aí eu volto para casa", afirmou Neto. Segundo ele, os recursos da educação "não estão chegando para o pobre".

Peregrinação
Na mochila, o produtor rural carrega garrafas d'água, uma manta para dormir e uma escova de dentes. Ele afirma manter contato por telefone com a família, que o encontrou no caminho para entregar roupas limpas e celular com bateria carregada.

O agricultor afirma que foi até o Ministério da Educação, orientado por um funcionário do Planalto, mas teve de retornar. "Voltei e o mesmo atendente pediu para eu ir novamente ao MEC, mas já estou com os pés cheios de bolha, não sei se consigo. Até agora, não tive resposta do governo".

Com histórico de dois infartos, Neto diz que fez o trajeto caminhando devagar porque toma três remédios controlados diferentes para o coração. Desde 2014, a filha conseguiu cursar três semestre de medicina, mas acumulou uma dívida de R$ 50 mil e ainda não se matriculou para o próximo semestre.
A renda da família, que produz hortaliças em Alexânia em uma pequena propriedade, é suficiente apenas para os custos com moradia, alimentação e material escolar.


"A presidente disse que este é um país de todos e que pobre também pode ser doutor. E as aulas da minha filha começaram hoje e ela não pode frequentar as aulas por falta de pagamento", afirmou.

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