Doações eleitorais de construtora de viaduto subiram de R$ 10 mil para R$ 2 milhões após vencer licitação


Vladimir Chaves

A construtora Cowan, responsável pela execução do projeto do viaduto Guararapes, que desabou em Belo Horizonte mantando duas pessoas e ferindo 23, parece ter se interessado por campanhas eleitorais nos mesmos anos em que venceu licitações em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro para obras de mobilidade urbana.

Prestações de contas no site do Tribunal Superior Eleitoral e relatórios do Transparência Brasil apontam que a Cowan doou apenas R$ 5.000 na campanha de 2004 e R$ 12.600 em 2006. Já em 2010, a construtora mineira aportou R$ 2,3 milhões nas contas de partidos - crescimento de 18.193% em quatro anos. Nas últimas eleições municipais, em 2012, foram R$ 2,8 milhões, divididos para três partidos.

O PMDB recebeu R$ 1,8 milhão. A empresa também desembolsou R$ 500 mil para o PSDB e outros R$ 500 mil para o caixa do PCdoB. Como as doações foram feitas aos diretórios nacionais, e não diretamente a candidatos, não é possível saber qual político se beneficiou do dinheiro doado pela Cowan.

As datas coincidem com a participação da Cowan em obras como a duplicação da BR-040, Linha Verde, ampliação do aeroporto de Confins, Gasoduto Vale do Aço, obras da Sabesp e Linha 4 do metrô do Rio, entre outras. Somente as intervenções na Pedro 1º têm custo previsto de R$ 460 milhões.

As obras na avenida eram de responsabilidade do consórcio formado por Cowan e Delta, do empresário Fernando Cavendish. Quando estouraram as relações entre a Delta e o bicheiro Carlinhos Cachoeira, a Prefeitura de BH emitiu nota de pagamento para a Delta sair do negócio, para que a Cowan pudesse continuar os trabalhos. Na época, a PBH garantiu que os serviços seriam concluídos normalmente.

Relatório do Tribunal de Contas do Estado aponta superfaturamento de 350% na compra de materiais para obras na Pedro 1º, incluindo o viaduto Guararapes. A obra, que estava na matriz da Copa do Mundo, deveria ter sido entregue em setembro de 2012, mas a recusa da PBH em fazer acordo com famílias despejadas e atrasos nas obras provocaram adiamentos até agora.

Em 2012, outro escândalo veio à tona. O consórcio formado por Delta e Cowan assinou contrato de R$ 170 milhões com a prefeitura de BH três meses antes de ser registrado oficialmente. Mesmo sem CNPJ, o consórcio recebeu ordem de serviço para iniciar as obras, ainda em 2011.

Em 2013, o dono da construtora, Saulo Wanderley Filho, comemorou 40 anos com um show particular do cantor Latino. O governador Alberto Pinto Coelho (PP), então vice-governador, além de deputados, foram fotografados entre os convidados.


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