O Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) publicou nota hoje em que reconhece erro na pesquisa
“Tolerância social à violência contra as mulheres”, que causou polêmica na
semana passada. O número de maior repercussão mostrava que 65% dos brasileiros
concordavam com a afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo
merecem ser atacadas". Na verdade, o número é de 26%. O diretor da área de
Estudos e Políticas Sociais do instituto, Rafael Osório, pediu exoneração do
cargo após o erro ter sido percebido
Leia a íntegra da nota:
"Vimos a público pedir desculpas e corrigir dois erros nos resultados de nossa pesquisa Tolerância social à violência contra as mulheres, divulgada em 27/03/2014. O erro relevante foi causado pela troca dos gráficos relativos aos percentuais das respostas às frases Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar e Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. Entre os 3.810 entrevistados, os percentuais corretos destas duas questões são os seguintes:
Corrigida a troca, constata-se que a concordância parcial ou total foi bem maior com a primeira frase (65%) e bem menor com a segunda (26%). Com a inversão de resultados entre as duas questões, relatamos equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente por seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação e motivou amplas manifestações e debates na sociedade ao longo dos últimos dias.
O outro par de questões cujos resultados foram invertidos refere-se a frases de sentido mais próximo, com percentuais de concordância mais semelhantes e que não geraram tanta surpresa, nem tiveram a mesma repercussão. Desfeita a troca, os resultados corretos são os que seguem. Apresentados à frase O que acontece com o casal em casa não interessa aos outros, 13,1% dos entrevistados discordaram totalmente, 5,9% discordaram parcialmente, 1,9% ficou neutro (não concordou nem discordou), 31,5% concordaram parcialmente e 47,2% concordaram totalmente. Diante da sentença Em briga de marido e mulher, não se mete a colher, 11,1% discordaram totalmente, 5,3% discordaram parcialmente, 1,4% ficaram neutros, 23,5% concordaram parcialmente e 58,4% concordaram totalmente.
A correção da inversão dos
números entre duas das 41 questões da pesquisa enfatizadas acima reduz a
dimensão do problema anteriormente diagnosticado no item que mais despertou a
atenção da opinião pública. Contudo, os demais resultados se mantêm, como a
concordância de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres
soubessem como se comportar, haveria menos estupros. As conclusões gerais da
pesquisa continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates
da sociedade sobre seus preconceitos. Pedimos desculpas novamente pelos
transtornos causados e registramos nossa solidariedade a todos os que se
sensibilizaram contra a violência e o preconceito e em defesa da liberdade e da
segurança das mulheres.
Rafael Guerreiro Osório* e
Natália Fontoura
Pesquisadores da Diretoria
de Estudos e Políticas Sociais (Disoc/Ipea) e autores do estudo
* O diretor de Estudos e
Políticas Sociais do Ipea pediu sua exoneração assim que o erro foi
detectado."
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