Lista inédita dos
convidados VIP da Petrobrás para assistir ao GP do Brasil de Fórmula 1, em
novembro, revela que o agrado, originalmente usado pela estatal “para
relacionamento com grandes clientes corporativos”, teve como beneficiados o
genro da presidente Dilma Rousseff, Rafael Covolo; dois filhos do ministro da
Fazenda, Guido Mantega; e a irmã, o cunhado e a sobrinha da ministra do
Planejamento, Miriam Belchior, além de parlamentares da base aliada e seus
familiares.
Mantida em segredo pela gerência
executiva de Comunicação Institucional da Petrobrás, a lista foi obtida pelo
Estado via Lei de Acesso à Informação. O cargo é ocupado desde 2003 por Wilson
Santarosa, sindicalista amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O
pedido de informações foi negado duas vezes, e só foi atendido por decisão da
presidência da Petrobrás.
As cortesias dão direito à
vista privilegiada da pista do Autódromo de Interlagos, além de acesso aos
boxes das escuderias, hospedagem em hotel cinco estrelas e buffet de bebidas e
comidas durante o GP. Estima-se que o custo unitário dos convites oferecidos
pela Petrobrás chegue a R$ 12 mil – o ingresso mais caro vendido ao público no
ano passado, com benefícios semelhantes, valia R$ 11.200.
A Secretaria de Comunicação Social do governo afirmou ontem que Covolo “compareceu ao GP Brasil” a convite da Petrobrás, desacompanhado da mulher, Paula Rousseff, e que Dilma não sabia do convite. “A presidenta disse que, se tivesse sido (consultada), teria dito para ele não comparecer. Isso porque, embora não exista irregularidade, não vale o incômodo.”
Procurado, Covolo avisou
pela secretária que “não tinha interesse em se manifestar”.
O secretário adjunto do
gabinete de segurança da Presidência, coronel Artur José Solon Neto, também foi
convidado. O oficial confirmou o convite, mas disse não saber por que foi
escolhido.
Pedido. Dois filhos de
Mantega, que preside o Conselho de Administração da Petrobrás, estão na lista
VIP da estatal, assim como amigos deles. O pedido de ingressos para Carolina e
Leonardo Mantega partiu do próprio ministro. Procurada, Carolina fez um pedido.
“Por favor, eu gostaria que você não escrevesse essa matéria.” Perguntada se
ganhou o ingresso do pai, repetiu: “Eu não quero falar sobre isso”. Leonardo
não foi localizado.
Os filhos de Mantega
levaram um amigo, Felipe Isola. “Eu fui convidado porque gosto de assistir à
Fórmula 1. O camarote é minha posição preferida”, afirmou. Questionou se tinha
algum negócio com a estatal que justificasse a cortesia, Isola disse que a
pergunta deveria ser feita à Petrobrás. “Não sou da empresa, mas conheço
pessoas de lá”, afirmou.
Em nota, Mantega afirmou
que “os convites mencionados pela reportagem foram dados pela empresa devido ao
fato de o ministro ser conselheiro da companhia, tratando-se de uma prática
usual da Petrobrás para com seus conselheiros”.
Miriam Belchior é outra ministra e conselheira da Petrobrás cujos parentes foram ao camarote. Irmã da ministra, Virgínia confirmou ao Estado ter recebido o ingresso, mas desligou o telefone ao ser perguntada sobre como ganhou o convite.
Por meio de sua assessoria, a ministra afirmou que membros do Conselho de Administração constituem um dos diversos “públicos” de interesse da estatal. “Esse procedimento é praxe por parte de qualquer empresa pública ou privada que patrocina grandes eventos. Não infringe nenhuma norma estabelecida.”
O marido da titular das
Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o subtenente do Exército Jeferson da
Silva Figueiredo, também foi convidado para o camarote VIP. A ministra recebeu
o convite, mas afirmou não ter ido ao evento. Figueiredo não quis falar sobre o
assunto.
Base. O ex-presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP), também tem um parente na lista VIP da Petrobrás.
O neto do senador, João Fernando Sarney, não quis falar sobre o convite.
O Estado identificou na lista nove deputados federais, um distrital e dois senadores, além de suas mulheres, irmãos, namoradas e filhos. Lá estão o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (foto) (PT-SP), e o senador Gim Argello (PTB-DF), dois dos principais articuladores contra a CPI da Petrobrás.
O gabinete de Argello
confirmou o uso da credencial, estendida ao irmão e à mulher, mas disse que
“não utilizou o serviço de hospedagem a que tinha direito”. Chinaglia não quis
comentar.
Por meio de assessoria,
Marcus Pereira Aucélio, subsecretário de Política Fiscal do Tesouro, Paulo
Fontoura Valle, subsecretário da Dívida Pública do Tesouro, e Marcio Holland,
secretário da Fazenda, confirmaram a presença no evento, mas disseram que, ao
aceitarem o convite, “consideraram que a Petrobras é uma empresa pública e não
enxergaram nenhum potencial conflito de interesses, por se tratar de evento
promocional e com convite extensivo a várias outras autoridades”.
Confira a lista completa
de convidados:
Cota da presidente: Rafael Covolo, genro de Dilma
Família Mantega: Carolina Mantega, filha do ministro Guido
Mantega (Fazenda); Leonardo Mantega,
filho do ministro Guido Mantega; Felipe
Isola, amigo da filha do ministro Guido Mantega; Reginaldo Valença, amigo da filha do ministro
Guido Mantega
Ministra do
Planejamento: Miriam Belchior, ministra
(Planejamento) e membro do Conselho de Administração da Petrobrás; Virginia Belchior Carneiro de Campos, irmã da
ministra; José Renato Carneiro de
Campos, cunhado da ministra; Carolina
Belchior Carneiro de Campos, sobrinha da ministra
Relações Institucionais
Ideli Salvatti, ministra
das Relações Institucionais; Jeferson
Figueiredo, marido da ministra e sargento do Exército
Deputados
Arlindo Chinaglia
(PT-SP); Cleber Verde (PRB-MA); Fernando Ferro (PT-PE); Guilherme Mussi (PP-SP); João Carlos Bacelar (PR-BA); José Guimarães (PT-CE); Marcelo Cerqueira
(ex-deputado); Paulo Pereira da Silva
(Solidariedade-SP); Protógenes Queiroz
(PC do B-SP); Weliton Prado (PT-MG);
Cristiano Araújo (PTB-DF) e namorada
Senadores
Gim Argello (PTB-DF) e
irmão; Clovis Fecury (DEM-MA)
Tesouro
Marcus Pereira Aucélio,
subsecretário de Política Fiscal; Paulo Fontoura Valle, subsecretário da Dívida
Pública.
Estadão
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