A revista britânica The
Economist divulgou nesta semana seu Índice de Democracia de 2024, um estudo
anual que avalia o nível de democracia em 167 países com base em cinco
critérios: processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo,
participação política, cultura política e liberdades civis. Segundo a revista,
o relatório revelou um quadro preocupante: a democracia global está no pior
nível desde 2006, quando o ranking foi criado.
A Noruega, pelo 16º ano
consecutivo, lidera a lista como a democracia mais consolidada do mundo, com
nota 9,81. No lado oposto, o Afeganistão permanece como o país menos
democrático, com apenas 0,25 pontos. O Brasil, que em 2023 ocupava a 51ª
posição, caiu para 57º lugar, sendo novamente classificado como uma "democracia
falha".
Enquanto as democracias
plenas diminuem, os regimes autoritários se fortalecem. China, Cuba, Nicarágua,
Venezuela e Rússia continuam entre os piores do mundo, sendo mencionados no
relatório como exemplos de repressão, censura e fraude eleitoral. Apenas 45% da
população mundial vive sob alguma forma de democracia, enquanto dois em cada
cinco habitantes do planeta estão sob regimes autoritários.
Falta de transparência
O levantamento mostrou que
apenas 25 países são considerados "democracias plenas", representando
6,6% da população mundial. Grande parte das nações, incluindo o Brasil,
encontra-se na categoria de democracia falha (46 países, 38,4% da população) ou
regimes híbridos (36 países, 15,7%) – que até tem algumas práticas
“democráticas”, mas fraudam eleições e perseguem opositores. Já os regimes
autoritários cresceram e agora somam 60 países, onde vivem 39,2% da população
mundial.
Mesmo com um ano recorde
de eleições — 1,65 bilhão de votos foram depositados em mais de 70 países —, o
índice revela que muitas dessas votações não foram livres nem justas.
Paquistão, Rússia, Venezuela e Irã tiveram eleições manipuladas ou altamente
controladas pelo regime, diz o relatório. Além disso, em Burkina Faso, Mali e
Kuwait, os governos simplesmente cancelaram as eleições, reforçando seu
controle autoritário.
Entre os países que mais
perderam posições no ranking estão Bangladesh, que despencou 25 colocações após
a destituição da premiê Sheikh Hasina, e Tunísia, que perdeu 11 lugares devido
ao aumento da repressão política.
Os "piores países do
mundo"
No final do ranking, o
Afeganistão (0,25 pontos) segue como o país menos democrático do mundo desde
2021, quando o Talibã retomou o poder. Após a saída desastrosa dos EUA, sob
comando de Joe Biden, do território, o regime assumiu o controle e impôs leis islâmicas
extremas, proibiu mulheres de estudar e trabalhar e eliminou qualquer forma de
oposição política. Coreia do Norte (1,08 pontos), Síria (1,32 pontos) e Myanmar
(0,96 pontos) completam a lista dos regimes mais fechados, todos caracterizados
por governos ditatoriais, censura total da imprensa e perseguição brutal de
opositores.
O relatório cita que na
Síria, a queda do ditador Bashar al-Assad no final do ano “sinalizou a
perspectiva de mudança política nesse país atormentado, mas, por enquanto,
resta apenas um vácuo de poder e incerteza política”.
A Rússia, do ditador
Vladimir Putin, continua na categoria de regime autoritário, ocupando a 150ª
posição com 2,03 pontos. O relatório da Economist cita que “a farsa eleitoral
de 2024 garantiu a Putin um quinto mandato, enquanto opositores foram
perseguidos, presos ou forçados ao exílio”. Segundo o documento, a Rússia tem
níveis baixíssimos de liberdade de expressão e independência do Judiciário, com
o Kremlin exercendo controle absoluto sobre a mídia e a sociedade civil.
A China, na 145ª posição
(2,11 pontos), permanece entre os países menos democráticos do mundo. O Partido
Comunista Chinês, liderado pelo ditador Xi Jinping, reprime dissidências,
censura à internet e mantém forte vigilância sobre a população. Protestos
contra a política de lockdowns e as violações de direitos humanos foram
brutalmente sufocados em 2023 e 2024.
Já Cuba (135ª posição,
2,58 pontos) continua sob o regime ditatorial da família Castro, agora liderado
por Miguel Díaz-Canel. O Partido Comunista controla todas as esferas do
governo, não há eleições livres, e opositores políticos são presos e
torturados. Em 2024, houve um aumento na repressão contra manifestantes e
jornalistas independentes.
A Venezuela, comandada por
Nicolás Maduro, segue entre os piores países do mundo, na 142ª posição com
apenas 2,25 pontos. O regime chavista manteve eleições fraudulentas,
perseguição a opositores e um colapso econômico e social, que levou milhões de
venezuelanos a fugirem do país.
A Nicarágua (147ª posição,
2,09 pontos), governada por Daniel Ortega, segue o mesmo caminho. A repressão a
opositores e o fechamento de meios de comunicação independentes mantêm o país
na lista dos piores regimes autoritários. A aliança com China, Rússia e Irã tem
fortalecido o poder de Ortega, que não demonstra intenção de abrir espaço para
qualquer tipo de democracia.
Brasil segue como
democracia falha
No caso do Brasil, a queda
para 57º lugar ocorreu devido a um aumento do controle judicial sobre questões
políticas e limitações à liberdade de expressão. O relatório da The Economist
destacou que o Supremo Tribunal Federal (STF) tem tomado decisões polêmicas que
influenciam diretamente o cenário político, algo incomum em democracias
consolidadas.
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