Por Murillo Torelli,
professor de Ciências Contábeis da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
A inflação é, sem dúvida,
um dos maiores inimigos da sociedade brasileira. Ela corrói o poder de compra,
penaliza desproporcionalmente as classes mais pobres e sabota qualquer
tentativa de planejamento financeiro das famílias. Apesar de o IPCA-15 de janeiro
ter registrado uma alta de apenas 0,11%, a menor para o mês desde 1994, os
impactos da inflação continuam profundos e disseminados. Esse dado apenas
introduz um problema muito maior e mais persistente: a incapacidade do governo
federal de combater a alta generalizada dos preços de forma efetiva.
Os aumentos recentes em
itens básicos, como tomate, café e combustíveis, mostram como a inflação
impacta diretamente o dia a dia das famílias brasileiras, especialmente as mais
pobres. Enquanto a elite econômica consegue se proteger com ajustes
patrimoniais, os trabalhadores não têm a mesma alternativa. Essa desigualdade
fica ainda mais evidente quando vemos o custo de alimentos e serviços subir,
afetando a mesa e o orçamento familiar.
A postura do governo
federal tem sido de passividade ou, pior, de omissão. Em vez de atacar a
inflação pela raiz, o discurso político insiste em narrativas que não resolvem
o problema prático. O Brasil precisa urgentemente de uma política fiscal mais
rigorosa, com controle de gastos e medidas que sinalizem responsabilidade para
investidores e para a população. No entanto, o que se vê é um aumento de
promessas populistas que minam a credibilidade econômica do país.
Outro ponto de preocupação
é o papel do Banco Central (BC). Com a chegada de um novo presidente ao comando
da instituição, surgem dúvidas sobre como ele lidará com as inevitáveis
pressões para afrouxar a política monetária. A taxa de juros é uma ferramenta
essencial para conter a inflação, mas também é alvo de críticas por seu impacto
sobre o crescimento econômico. A questão é: o novo presidente do BC será capaz
de resistir às pressões políticas e manter uma postura técnica e independente?
Ou veremos uma flexibilização que pode trazer alívio de curto prazo, mas
agravar o problema inflacionário no longo prazo?
Enquanto isso, a inflação
segue como um imposto invisível que pesa mais sobre os mais pobres. A falta de
uma reforma fiscal consistente e a insistência em soluções paliativas mostram o
despreparo da atual gestão para enfrentar o problema. A recente queda nos
preços da energia elétrica, por exemplo, foi resultado de um alívio pontual com
o Bônus de Itaipu, e não de uma medida estrutural que ataque os custos de
energia no país.
O Brasil precisa de uma
agenda econômica clara, que inclua medidas efetivas para conter a inflação e
estímulos ao crescimento sustentável. Sem isso, quem continuará pagando o preço
é o trabalhador brasileiro, que vê seu salário perder valor a cada mês enquanto
as contas aumentam.
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