Apontados como “a maior
democracia do mundo”, os Estados Unidos (EUA) não elegem seu presidente por
meio do voto direto. E nem sempre o eleito é aquele que conquista a maioria dos
votos.
Como funciona
Como a votação é indireta,
nenhum dos eleitores votará, nesta terça-feira (5), diretamente nos candidatos
Kamala Harris, do Partido Democrata, ou em Donald Trump, do Partido
Republicano. Eles votarão em delegados de seus estados, e estes, sim, votarão
nos candidatos à Presidência dos Estados Unidos.
O colégio eleitoral dos
EUA é formado por 538 delegados. O número de delegados por estado é
proporcional ao tamanho da população, o que define também seus representantes
no Legislativo.
O número de delegados é
revisto periodicamente, a cada duas eleições. A Califórnia, por exemplo, tinha,
em 2016, 55 delegados. Em 2024, terá 54.
O segundo estado com mais
delegados é o Texas (40), seguido da Flórida (30), Nova York (28 ) e de
Illinois e Pensilvânia (19, cada um). Os com menor número são Dakota do Norte,
Delaware, Dakota do Sul, Vermont, Wyoming, distrito de Columbia e Alasca (3
delegados, cada); Maine, Montana, Idaho, New Hampshire, Virgínia Ocidental,
Rhode Island e Havaí (4 delegados, cada).
Todos os estados, menos
Maine e Nebraska, usam o sistema de eleição de delegados conhecido como “the
winner takes all”, no qual “o vencedor leva tudo”. No caso, todos os votos dos
delegados do estado.
Dessa forma, o sistema
oferece possibilidades reais de que seja eleito o candidato menos votado, caso
tenha vencido a disputa nos estados mais populosos – portanto, com maior número
de delegados.
Isso, inclusive, já
ocorreu em alguns pleitos, como o de 2016, quando o republicano Trump foi
eleito tendo quase 3 milhões de votos a menos que a democrata Hillary Clinton.
Situação similar ocorreu
em 2000, favorecendo também o Partido Republicano, no embate que colocou, na
Presidência dos EUA, George W. Bush – mesmo com seu adversário, o democrata Al
Gore, tendo recebido quase 500 mil votos a mais.
As duas situações foram
possíveis porque, apesar de a maior parte dos votos ter ido para os democratas,
quem obteve a maior parte de votos entre os 538
delegados foram os republicanos.
Estados Pêndulo
Se, por um lado, existem
estados em que o resultado da disputa costuma ser mais previsível, com
eleitores historicamente apoiadores de um ou outro partido, por outro, há
estados em que, também historicamente, não há maioria absoluta nas intenções de
votos. São os chamados swing states – em tradução livre, “estados pendulares”,
onde qualquer partido pode sair vitorioso.
Com isso, esses estados
acabam sendo alvo preferencial das campanhas eleitorais, com grandes chances de
definir o resultado final do pleito. Sete estados são considerados pêndulos:
Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin.
Segundo Goulart Menezes,
quando as eleições são muito apertadas, os candidatos costumam focar também nos
dois únicos estados onde o sistema eleitoral não segue a linha do “the winner
takes it all” – Maine e Nebraska.
A luta pela maioria dos
votos não para aí. Uma estratégia adotada para formar maioria em algumas
localidades é definir o desenho dos distritos eleitorais, de forma a formar
maioria para esta ou aquela tendência e, na contabilização final, favorecer um
lado, contabilizando todos os votos dos delegados para o candidato da
preferência do governador estadual.
Voto antecipado
Outra peculiaridade do
sistema eleitoral norte-americano é que alguns estados permitem o voto
antecipado, mecanismo adotado sob a justificativa de evitar longas filas e
tumulto no dia das eleições.
Pelo processo antecipado,
o eleitor pode mandar seu voto pelos Correios, até mesmo do exterior, ou
depositá-lo em locais predeterminados. Mais de 70 milhões de eleitores já
votaram dessa forma para o próximo pleito.
Prévias eleitorais
A definição sobre quem
serão os candidatos nos partidos norte-americanos é feita por meio de uma
programação complexa e demorada, denominada prévias eleitorais. Ao longo de
vários meses – em geral, mais de sete meses –, dezenas de candidatos dos
principais partidos, além dos independentes, disputam o voto popular.
Como se trata de uma
organização cara, que exige dos partidos o funcionamento de máquina operacional
em todos os estados norte-americanos, só os democratas e os republicanos
conseguem concluir o processo com possibilidades reais de chegar à Casa Branca,
sede do governo dos Estados Unidos.
As prévias têm modelos
diferentes em cada estado: em alguns, qualquer eleitor pode votar em qualquer
eleição primária. Outros estados exigem que o eleitor mostre a filiação
partidária para votar nas primárias da área em que está registrado.
Além de escolhidos pelas
prévias, os candidatos precisam, também, ter a candidatura oficializada em
convenções partidárias. As convenções duram em média quatro dias e nunca
ocorrem em Washington, capital norte-americana.
Resultados
A autonomia dos estados
para definir suas leis eleitorais costuma gerar alguma imprevisibilidade com
relação ao tempo em que o resultado do pleito presidencial é anunciado. Em
2000, devido a polêmicas na Flórida, o processo de contagem dos votos demorou
mais de um mês. Já em 2008, devido à boa vantagem de Barack Obama em muitos
estados, o democrata já era o presidente eleito no final do dia da votação.
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