Por Esther Cristina
Pereira,
Vivemos em um tempo de
muitos conflitos na educação, na política, nas famílias, nas relações e nos
pensamentos. Há alguns anos atrás, a lei e as regras eram voltados para todos.
Todos as seguiam sem ao menos cogitar um caminho diferente do que era
estabelecido pela sociedade e considerado como correto. Se eu, quando criança,
quebrasse o vidro da janela do meu vizinho com uma pedrada, ele poderia chamar
a minha atenção e meu pai ou minha mãe, certamente, me dariam um castigo. Já o
custo do conserto, com certeza sairia da minha mesada.
Agora, se eu fosse criança
nos dias de hoje e quebrasse o vidro da janela do meu vizinho, ele não poderia
chamar a minha atenção, pois isso poderia ser motivação para um processo de
danos morais. Certamente, meus pais não achariam positivo uma pessoa estranha
falando de forma severa comigo e, ainda, pensariam na possibilidade de não
pagar o vidro quebrado, pois haveria uma justificativa para tal.
Nesse cenário hipotético,
percebemos uma mudança de paradigma, uma transformação que impacta diretamente
o comportamento e o desenvolvimento das crianças dentro do ambiente escolar. A
permissividade dos pais diante das situações do cotidiano na escola e em casa
geram no estudante uma visão de mundo deturpada e que dificilmente pode ser
alterada.
Dentro de casa, precisamos
lembrar que as regras existem, mas que transitam entre dois polos: os
posicionamentos da mãe e os do pai. Com rotinas atribuladas, é raro que ambos
se reúnam para definir o ponto em comum, o lado a ser seguido. Assim, a
criança, com sua capacidade perceptiva de analisar os posicionamentos dos
adultos e a relação entre os membros da família, determina individualmente uma
forma de funcionamento que se complica em demasia quando passa a conviver
socialmente em outros ambientes e, principalmente, na escola, que é o primeiro
núcleo frequentado depois da família.
No ambiente escolar, o
sofrimento dessa criança que chega sem freios para o convívio social é imenso,
pois ela se depara com um espaço delimitador, com outros seres humanos
empoderados assim como ela e com adultos que não aceitam certos comportamentos.
Esse choque gera sofrimento e estresse, inclusive, para os que trabalham na
linha de frente: os professores e todos os profissionais da educação. Afinal,
na escola, do porteiro ao cozinheiro, todos educam.
Ao se deparar com o
primeiro meio social, sem os pais presentes, o estudante pode ter dificuldade
e, até mesmo, gerar uma repulsa em relação a regras, ao correto, à prática da
empatia e a inúmeras outras situações. Por isso, se faz necessário que adultos
que têm crianças em casa eduquem esses indivíduos para conviver com regras e
como parte de uma sociedade regrada.
Não é possível educar um
ser humano aos quatro anos. A educação é feita no cotidiano, desde o seu
nascimento, estabelecendo pequenas normas como, por exemplo, horários de
mamadas, horários de sono e diálogo frequente, mesmo sem resposta nos primeiros
anos. Os pais precisam ter compreensão de que aquele bebê está formando sua
personalidade e sua maneira de ver o mundo desde seu primeiro dia de vida.
Precisamos relembrar a
máxima de que a escola não educa, quem educa é a família. O plantio da boa
educação envolve inúmeros fatores, sentimentos, sensações e, principalmente,
conquistas. Mas até lá, muitas vezes, a jornada da educação pode doer tanto
para quem educa quanto para quem está sendo educado. Por esse motivo, muitos
deixam de educar e perdem a oportunidade preciosa de contribuir para uma
transformação real nas novas gerações.
A educação se dá, em
grande parte do tempo, pelo exemplo. Nós somos os adultos e é nossa a
responsabilidade de educar com palavras e com ações. As cobranças, as regras e
as exigências fazem parte do processo educativo. Independentemente da idade, as
crianças têm, desde cedo, uma capacidade enorme de absorção de informações e de
entendimento. É assim que vemos frequentemente crianças pequenas reproduzindo
as atitudes dos pais com extrema fidelidade.
Seja na escola, em
consultas com especialistas de fora ou em qualquer instituição séria que preze
pela educação, é importante que os pais tenham uma voz experiente para
auxiliá-los na educação dos filhos. Ao nascer em um terreno fértil e amplo para
aprendizagens, as crianças têm suas capacidades potencializadas e estimuladas
adequadamente. Vale sempre lembrar que o plantio está intimamente ligado à
colheita. O que for plantado na vida da criança, ela irá colher e a sociedade
como um todo também.
Esther Cristina Pereira é
pedagoga, psicopedagoga, professora, conselheira da Escola Atuação e diretora
da FENEP (Federação Nacional das Escolas Particulares).
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