As imagens de câmeras de
segurança reveladas pela CNN não deixam dúvida: o Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência (GSI) foi leniente diante da invasão do Palácio do
Planalto em 8 de Janeiro. A teoria que semanas atrás poderia soar um tanto
conspiratória para alguns agora começa a ganhar doses assustadoras de realismo.
Parlamentares da oposição
têm feito a sua parte para esclarecer o caso. A bancada do Novo exigia, desde
janeiro, o acesso às imagens agora reveladas e pressionava para que a Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) fosse enfim instaurada.
Mas o sistema tentava resistir.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), avançou contra o regimento da
própria Casa que preside, para adiar a instauração da CPMI. Quis dar mais tempo
para que o governo pudesse “convencer” parlamentares a retirarem o apoio à
comissão de investigação. Na Câmara, deputados foram proibidos de expressar sua
indignação sobre o comportamento esquivo de Pacheco.
Enquanto isso, o Supremo —
que costuma invadir a competência dos outros Poderes quando lhe convém —
silenciou. Provavelmente porque os ministros temem ser alvo de investigações
também. Não querem que os deputados investiguem acusações de prisões
arbitrárias, de maus-tratos nas prisões, de mandados de prisão feitos em série
e não individualizados, como manda a lei.
Diante de tanta pressão do
sistema congestionando as vias institucionais, só mesmo um furo jornalístico
dessa proporção para causar uma reviravolta no jogo político e tornar a
abertura da CPMI improrrogável. Enquanto este episódio não estiver esclarecido,
o governo não tem legitimidade para impor nenhuma agenda.
Muitos analistas
consideraram o 8 de janeiro uma versão tupiniquim da invasão do Capitólio, que
ocorreu em Washington, em janeiro de 2021. Mas as descobertas recentes mostram
que talvez exista outro paralelo histórico a considerar: o incêndio do
Reichstag, de 1933.
Atribuído a um jovem
comunista, o incêndio ao Parlamento alemão foi usado por Adolf Hitler como
prova de que uma conspiração golpista estava em curso. A suposta ameaça de
golpe foi uma justificativa para retirar direitos políticos dos alemães. Até
hoje não se sabe se os próprios nazistas estavam envolvidos no atentado.
Só uma boa — e justa —
investigação parlamentar é capaz de revelar a verdade por trás da guerra de
narrativas — e quais foram as intenções do governo Lula ao abrir as portas, e
até servir água, para os invasores do Planalto. É hora de o Brasil exigir transparência
sobre um dos momentos mais tensos da história recente da República.
Eduardo Ribeiro,
presidente do Novo
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