Abortos seletivos podem levar o mundo a ter quase 5 milhões de meninas a menos em 10 anos


Vladimir Chaves




Abortos seletivos podem levar a uma queda de pelo menos 4,7 milhões de nascimentos de meninas no mundo nos próximos dez anos, mostrou estudo publicada no BML Global Health.

Nos últimos 40 anos, tem aumentado o número de abortos seletivos em países que culturalmente têm preferência por filhos do sexo masculino, especialmente do sudeste da Europa ao sul e sudeste da Ásia, diz o artigo. Além do dano em si da prática de abortos de meninas, essa "seleção" tem outras consequências prejudiciais para as populações que sofrem com o desequilíbrio entre homens e mulheres.

"Um número menor do que o esperado de mulheres em uma população pode resultar em níveis elevados de comportamento antissocial e violência, e pode afetar a estabilidade de longo prazo e o desenvolvimento social sustentável", afirmam os autores.

Os cientistas destacam também que a preferência por bebês do sexo masculino, que leva a um desequilíbrio demográfico entre homens e mulheres, pode levar a um "aperto de casamentos" nos países afetados, com a falta de mulheres aptas para o matrimônio.

A pesquisa, publicada no BML Global Health, analisou dados de mais de 3 bilhões de nascimentos ocorridos nos últimos 50 anos para chegar a essas conclusões e fazer projeções sobre os efeitos de curto e longo prazos que a "seleção de sexo" terá na sociedade.

Foram produzidos dois cenários para quantificar a proporção entre os sexos nos países no futuro. No primeiro cenário, o mais conservador, foram analisadas as tendências para os 12 países com evidências mais fortes de desequilíbrio entre os sexos no nascimento - o que levou à projeção de que o mundo perderia cerca de 4,7 milhões de meninas que poderiam nascer até o ano de 2030.

O déficit projetado nesse cenário é menor do que o registrado entre 1970 e 2020 - quando estima-se que 49,4 milhões de nascimentos de meninas foram "perdidos" - devido à projeção de uma recuperação gradual nos próximos anos do desequilíbrio entre o nascimento de meninos e meninas na China e na Índia, ambos países populosos em que a preferência por filhos do sexo masculino causa desproporção entre homens e mulheres na sociedade.

A China anunciou em maio deste ano que passaria a permitir que casais tenham até três filhos, em uma flexibilização da política de filho único imposta por décadas no país.

O segundo cenário incluiu países em que essas tendências não são verificadas de maneira suficiente, por falta de dados, mas onde são observadas tendências de aumento da seleção pré-natal de sexo e da fertilidade. De acordo com essas estimativas, seriam perdidas até 22 milhões de meninas que nasceriam até 2100 em todo o globo.

Esse cenário incluiu 17 países que estão em risco de mudar a proporção de nascimentos de meninos e meninas no futuro, no final do século, devido à preferência por filhos do sexo masculino. Os autores ressaltam, no entanto, que as projeções desse cenário são hipotéticas, pois dependem das mudanças das taxas de fertilidade em países como Afeganistão, Egito, Nigéria, Paquistão e Tanzânia.

Para a Organização das Nações Unidas (ONU), a escolha pré-natal de sexo, assim como o casamento infantil e a mutilação genital feminina, são práticas nocivas que devem ser combatidas no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

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