Prestação parcial de
contas do PT apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que o
ex-presidente e ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva começou a receber,
desde janeiro, salário de R$ 20,4 mil com dinheiro do fundo partidário.
Trata-se, portanto, de recurso público destinado a um condenado na Lava Jato
que está solto por força de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Além de Lula, o PT também
paga, com dinheiro do mesmo fundo, o sustento de outros integrantes do partido
enrolados com a Justiça: o ex-ministro Gilberto Carvalho (réu na Operação
Zelotes) e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Netto (também condenado na Lava
Jato). Carvalho recebe R$ 14,7 mil do partido por mês. Vaccari recebeu R$ 66
mil desde o fim do ano passado a título de “verbas indenizatórias”.
Em junho do ano passado, o
juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, Luiz Antonio Bonat, atendeu a
pedido do Ministério Público Federal e determinou o bloqueio de R$ 77,9 milhões
em bens do ex-presidente. Como Lula está com os bens bloqueados, o PT resolveu
contratá-lo para atividades de “consultoria política” ao partido. Lula foi
condenado a 12 anos e 1 mês de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de
dinheiro no caso do triplex do Guarujá.
Segundo a prestação de
contas do PT ao TSE, Lula já recebeu duas parcelas: uma em 30 de janeiro e a
outra em 3 de março — esta, referente aos “honorários” de fevereiro. O
vencimento de março ainda não foi registrado nos sistemas de prestação de
contas da Justiça Eleitoral. Até então, o partido evitava falar sobre o salário
de Lula. Durante o ano de 2020, o PT já gastou R$ 17,9 milhões dos recursos do
fundo partidário.
Salário de Lula
Essa não é a primeira vez
que o PT banca o salário do ex-presidiário. Antes de ser eleito em 2002, Lula
era sustentado com recursos do partido. Após ser preso, em abril de 2018, ele
passou a queixar-se a aliados de problemas financeiros. A empresa Lils
Palestras, que pertence a Lula, é responsável por pagar boa parte da defesa do
ex-presidente nos processos da Lava Jato. Lula também efetuava saques
regulares.
O PT, com recursos do
fundo partidário, também vem ajudando o petista a bancar alguns custos
operacionais de sua defesa. Ao todo, estima-se que a defesa de Lula nos
processos da Lava Jato tenha custado até R$ 5 milhões.
Acusados e bem remunerados
Alvo de uma ação penal sob
a acusação de ter articulado a aprovação de medidas provisórias após pagamento
de propina, o ex-ministro e ex-chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho,
também aparece na folha de pagamento do PT. Seu salário durante o ano de 2020 é
de R$ 14,7 mil. Mas, no caso do ex-ministro da Secretaria de Governo, o partido
ainda bancou neste ano outras despesas, como lanches e ressarcimento por
material de escritório. No início de 2020, Carvalho ainda se beneficiou do
residual de seu décimo terceiro salário: R$ 10,9 mil. Somando tudo isso,
Gilberto já embolsou R$ 41,1 mil.
O ex-ministro é acusado
pelo Ministério Público Federal (MPF) do Distrito Federal de ter cobrado
propina de empresas do setor automobilístico para aprovar medidas provisórias
que beneficiaram montadoras. Segundo a denúncia do MPF fruto da Operação Zelotes,
os participantes do esquema prometeram R$ 6 milhões para Lula e Carvalho. O
dinheiro, conforme o MPF, foi usado para bancar campanhas eleitorais do PT.
Já o ex-tesoureiro do PT
João Vaccari Neto recebeu no fim do ano passado R$ 66 mil do partido por meio
de três parcelas a título de “rescisão de contrato”. Uma de R$ 44 mil em
novembro e as outras duas de R$ 11 mil —
ambas quitadas no último dia de dezembro. Um belo presente de ano novo.
Um detalhe sobre essa
rescisão chama atenção. Vaccari foi preso em 2015 e ficou os anos seguintes sem
trabalhar no partido. Tanto que em 2018 não há registros de pagamentos para ele
como funcionário do PT. Mesmo assim,
após ter sido solto, o ex-tesoureiro recebeu essas verbas indenizatórias
trabalhistas.
Preso pela Operação Lava
Jato, o ex-tesoureiro do PT deixou a cadeia em setembro do ano passado, depois
de ter sido beneficiado por um indulto natalino. Inicialmente condenado a 45
anos e 6 meses de prisão pela Justiça Federal do Paraná, em cinco ações penais
da Lava Jato, Vaccari conseguiu reduzir sua pena em 24 anos e obteve o
benefício do regime semiaberto.
revistaoeste.com
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