O primeiro dia do
Seminário Internacional Fake News e Eleições contou com a aula magna do
secretário-geral da Federação Europeia de Jornalistas (EFJ), Ricardo Gutiérrez.
O tema abordado foi “Combatendo a desinformação e preservando a liberdade de
expressão”. Promovido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o apoio da
União Europeia, no Auditório I do Tribunal, em Brasília.
Ricardo Gutiérrez começou
a sua explanação apontando que o termo fake news é frequentemente usado para
acusar a grande mídia e os jornalistas profissionais, em vez de indicar os
reais responsáveis pela propagação de conteúdo falso, desatualizado ou
calunioso que circula pela internet. Na opinião do palestrante, os responsáveis
por essa proliferação – propagandistas estatais, disseminadores de conspirações
e os chamados trolls – buscam justamente minar a confiança em torno dos
veículos de informação como verdadeiros propagadores de informações.
“Ninguém acredita em nada
mais”, afirmou Gutiérrez, ao mostrar resultados de pesquisas realizadas em
diversos países que apontam que o público confia cada vez menos na mídia
tradicional. “Isso nos preocupa demais”, completou.
Ele apresentou ainda
alguns dados que mostram que mais de 80% das pessoas, tanto no Brasil quanto na
União Europeia, manifestaram preocupação com os efeitos políticos da
disseminação de desinformação em seus países. Isso, na sua interpretação, é uma
característica que se tem observado nos mesmos lugares em que se tem registrado
uma grande polarização do debate político.
Jornalismo valorizado
Já para os jornalistas,
segundo os dados apresentados, são as mídias sociais – como veículos de
disseminação do que ele chama de "desordens da informação" – a maior
preocupação. A crise por que passam os veículos da mídia tradicional no mundo
inteiro, que traz na sua esteira a depreciação do papel do jornalista
profissional e a diminuição da qualidade das notícias que são trazidas ao
público, é considerada um fator favorável para a propagação de notícias falsas
por meio dessas redes.
Gutiérrez defendeu que o
combate às fake news não seja feito a partir da censura ou supressão de
conteúdos. Para ele, medidas nesse sentido seriam ineficazes, porque os
conteúdos repreendidos em certa plataforma podem ser republicados em outra.
Além disso, censura seria também contraproducente, pois alimentaria teorias da
conspiração, que, em geral, se baseiam em crenças e em perseguições do sistema
de mídia tradicional a determinadas personalidades ou pautas.
Para o palestrante, o
desafio do combate às notícias falsas é que ele seja feito sem comprometer a
liberdade de expressão. E isso se daria, nas palavras de Ricardo Gutiérrez, por
meio da “imunização da sociedade” à desinformação, investindo na credibilidade
dos veículos comprometidos com a propagação da verdade.
De acordo com o
secretário-geral da EFJ, um jornalismo valorizado, livre e de excelente
qualidade é a resposta que se deve dar aos disseminadores de desinformação. Além
disso, segundo Gutiérrez, para reverter esse quadro de descrédito, são
necessários maior comprometimento profissional e ético dos jornalistas e mais
transparência dos governos, instituições e políticos.
Por fim, a promoção do que
denominou “alfabetização midiática” também mereceu a atenção de Gutiérrez em
sua fala. “Precisamos fornecer instrumentos aos nossos cidadãos para que eles
possam fazer a diferença entre uma fonte de informação confiável e uma não
confiável”, concluiu.
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