Ditadura ou democracia?
Esse é o assunto atual no Campus I da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB,
em Campina Grande. E essa pergunta não se trata especificamente do teor de um
documentário, mas de atos e omissões da universidade estadual e "pública".
A direção do Curso de
Geografia através do Centro de Integração Acadêmica - CIAc da UEPB proibiu que
os seus acadêmicos exibissem e realizassem um debate sobre o documentário:
1964, O Brasil entre armas e livros, produzido pela organização Brasil Paralelo.
A decisão teria sido tomada após ações orquestradas pelos representantes dos
centros acadêmicos da universidade.
O grupo de estudos
'Estudantes Pró-Liberdade', composto por acadêmicos dos cursos de
Administração, Geografia, História e Jornalismo teriam feito a solicitação,
junto a coordenação do CIAc - Centro de Integração Acadêmica, a liberação do
Auditório I para exibirem no dia 02/04, às 18h, o documentário: 1964, O Brasil
entre armas e livros e em seguida realizarem um debate acadêmico sobre o longa-metragem
com a participação do professor Pedro Augusto, do Instituto Borborema de
Campina Grande. Por sua vez, a coordenação teria encaminhado um memorando ao
Departamento de Geografia, que por fim teria acatado o pedido.
A confirmação do
deferimento de uso do espaço ocorreu no dia 13/03, através do MEM. nº
0103/2019/UEPB/PROINFRA/PROINFRA-CIA e os acadêmicos iniciaram uma série de
anúncios e panfletagens referentes ao evento. Por outro lado, segundo um membro
que administra um Conselho dos CA’s da instituição - que é constituído por 19
Centros Acadêmicos -, existia o interesse de seus representantes em censurar a
exibição do longa. Por conseguinte, houve uma votação para decidir se todos os
centros acadêmicos estariam de acordo com em rejeitar a exibição do
documentário, o que foi acatado por 18 votos a 1.
Atos de vandalismo e ameça
Panfletos que divulgavam o
evento começaram a ser retirados e rasgados por militantes comunistas da
universidade. Os organizadores do evento ainda afirmam que um dos professores
do Universidade teria ameaçado acadêmicos que desejassem promover o evento
afirmando, segundo eles, que "cabeças irão rolar".
Nesta sexta-feira, 29/03,
os organizadores do evento buscaram informações junto ao Centro de Geografia
referentes aos boatos que circulavam por toda universidade que a liberação do
espaço teria sido cancelada. O departamento teria informado que após ter ouvido
os centros acadêmicos a decisão foi revertida no CIAC's e o local não estaria
mais à disposição. Ao invés disso, outro evento seria realizado pelos centros
acadêmicos no mesmo dia, horário e local.
"Houve uma ação por
parte da UEPB, da instituição sim, de censura e boicote. Eles haviam marcado
com a gente o auditório [e deixado] tudo certo. Daí começamos a divulgação do
evento. Gastamos dinheiro com cartazes, com o evento; já tínhamos [conseguido]
apoio; [as pessoas] já ficaram de vir; promovemos o evento. E hoje, faltando
menos de uma semana para o evento - quatro dias -, eles simplesmente cancelaram
sem diálogo com a gente quanto tudo já estava preparado [sic]." Afirma
Samuel Carneiro, um dos organizadores e acadêmico do curso de Administração do
3º Período.
Os estudantes afirmam que
houve uma ação orquestrada pela instituição, e que em conjunto com diversos
centro acadêmicos iniciaram uma censura a exibição e debate sobre o
documentário.
Para o acadêmico Felipe
Assis, do curso de Jornalismo, a decisão foi tomada porque, segundo ele, o
conteúdo do documentário e do debate não estava "dentro do eixo
esquerdista".
"Essa decisão da
UEPB, fere a liberdade e o direito dos alunos de poderem assistir um conteúdo
referente a História do Brasil, para que assim possamos melhor entender o
contexto histórico que culminou com o surgimento do Regimento Militar. "
afirma Felipe, acadêmico do curso de Jornalismo.
Membros do grupo
'Estudantes Pró-Liberdade' acreditam que existem uma ação política de esquerda
por trás da decisão do centro universitário, principalmente pelo fator do
reitor da UEPB, Antonio Guedes Rangel Júnior, ser filiado ao Partido Comunista
do Brasil (PC do B) desde 15 de dezembro de 1995, e por diversos membros dos
centros acadêmicos estarem intimamente ligados a partidos de esquerda, como:
PT, PCB e PC do B.
"O departamento do
curso simplesmente fechou questão que não ia liberar o auditório pra gente. E,
que foi uma decisão totalmente política." afirma Samuel Carneiro,
organizador do evento.
UFCG
A exibição e debate sobre
o documentário também será realizada por acadêmicos da Universidade Federal de
Campina Grande - UFCG, na próxima terça-feira, 03/04, e contará com o apoio do
Instituto Borborema e Instituto Tropeiros. O debate será realizado pelos
professores Mateus Mota Lima e Pedro Augusto, ambos do Instituto Borborema.
Os organizadores do evento
na Universidade Federal, que integral o grupo UFCG Livre, também temem
retaliações e censura, visto o histórico já conhecido naquela academia.
Em 17 de novembro de 2017,
intimidações aos visitantes ocorreram no campus universitário quando estudantes
e interessados foram ao local para assistir o documentário O Jardim das
Aflições, protagonizado pelo filósofo e escritor Olavo de Carvalho. Naquela
ocasião, o auditório de 250 assentos ficou lotado e várias pessoas assistiram o
longa-metragem em pé ou sentados na escadaria. Paralelo ao evento,
simpatizantes contrários a sua exibição e debate decidiram exibir nos pátios da
UFCG, o filme O jovem, Karl Marx, que teve a atenção de 17 espectadores.
Em 2018, quando o grupo
UFCG Livre decidiu exibir o filme Bonifácio - O fundador do Brasil, houve atos
de vandalismo para impedir a realização do filme, sendo cortada a energia
elétrica do campus universitário.
O documentário
O documentário 1964: O
Brasil entre armas e livros busca fazer um levantamento sobre os eventos
históricos, ideológicos e políticos referente ao ano de 1964. Houve no Brasil
uma Ditadura, um Regime Militar ou uma Revolução?
Matéria publicada
originalmente no site:www.eusouazul.com
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