O Fundo Monetário
internacional (FMI) apontou cifras para o desastre econômico da Venezuela. O
Governo de Nicolás Maduro esconde as estatísticas dos cidadãos e deixou de
publicar dados básicos. Mas o panorama exposto no informe publicado nesta
terça-feira pelo FMI é o de uma economia em decomposição, com a inflação
descontrolada e a atividade afundando em um ritmo comparável ao de países em
guerra uma crise que elevará o desemprego para níveis nunca vistos no país em
décadas.
A queda do PIB prevista
para este ano é de 10%, à qual se somará outro declínio, de 6%, em 2016,
segundo os cálculos do FMI. É o pior desempenho de toda a América Latina e um
dos piores do mundo, somente à frente do Iêmen, em pleno conflito bélico, da
Serra Leoa, castigada pelo ebola, e da Guiné Equatorial. A queda é até mesmo
maior do que a da Ucrânia, também abalada pela guerra.
A queda dos preços do
petróleo golpeou duramente a economia, mas com muito mais força do que em
qualquer outro país petrolífero por causa da desastrosa gestão econômica do
Governo de Maduro. Levando em conta que o PIB caiu 4% em 2014, a economia
venezuelana segue em vias de perder uma quinta parte em três anos. Isso
significa retroceder em 2016 ao nível de atividade de 2006, ou seja, uma década
perdida.
A redução da atividade
terá grandes consequências para o mercado de trabalho. O FMI calcula que a taxa
de desemprego passará de 8% em 2014 a 14% em 2015 e 18% em 2016, mais do dobro
que o país latino-americano posicionado em seguida, a Colômbia, com 8,9%. Esse
nível é o mais alto desde 2003, mas o FMI acredita que o desemprego continuará
subindo nos anos seguintes até alcançar níveis não vistos em décadas.
Inflação descontrolada
Onde a Venezuela não tem
comparação é na elevação descontrolada dos preços. O Banco Central da Venezuela
deixou de publicar os dados de inflação este ano. O Governo de Maduro acreditou
que poderia baixar a inflação estabelecendo controles de preços, mas a única
coisa que conseguiu foi provocar um desabastecimento generalizado de produtos
básicos, filas enormes nos supermercados que os vendem e um mercado negro que
torna mais rentável em muitas ocasiões a revenda ou o contrabando de produtos
sob intervenção do que o salário de trabalhos qualificados da economia formal.
O FMI prevê que a inflação
se situe em 158,1% este ano e suba para 204,1% em 2016. Com isso, os preços
terão se multiplicado quase por oito em um prazo de apenas dois anos. O bolívar
venezuelano perdeu quase todo o seu valor desde que Maduro chegou ao poder.
Enquanto no câmbio oficial a cotação é de um dólar para 6,3 bolívares, no
mercado negro a verdinha é trocada por cerca de 800 bolívares (quase 4.000
reais). Ou seja, menos de uma centésima parte de seu valor declarado. Os poucos
que conseguem que o Governo lhes venda dólares pela taxa oficial, normalmente
pessoas próximas do regime, se tornam ricos na hora simplesmente pela diferença
no câmbio.
Um bolívar afundado
Com essa taxa de câmbio
paralela, a nota de maior valor, a de 100 bolívares, vale apenas cerca de 50
centavos de real. E há notas a partir de 2 bolívares, ou seja, o equivalente a
menos de um centavo de real. Não dá para quase nada, a não ser no posto de
combustível. Com esses 2 bolívares pode-se colocar mais de 20 litros de
gasolina, pois o preço do combustível está congelado há anos, em meio à
hiperinflação, o que faz com que, na prática, se transforme em gratuito.
Alguns comércios rejeitam
as notas de baixo valor. Já as mais altas, as de 100 bolívares, costumam ficar
escassas com frequência e não é possível consegui-las nem sequer nos bancos. O
pagamento com cartão se torna imprescindível para não se ter de andar
carregando enormes maços de dinheiro. O problema é que os salários nem de longe
subiram o mesmo que os preços (ou da depreciação do bolívar), de modo que um
profissional qualificado pode ter um ordenado que, pelo câmbio paralelo,
equivalha a 20 ou 30 dólares mensais.
A Venezuela se transformou
ao mesmo tempo no país mais caro e mais barato do mundo. É o mais barato
segundo o índice Big Mac, elaborado pela The Economist, se forem calculados os
preços não com o bolívar paralelo, mas com outro tipo de taxa de câmbio
oficial, que fixa o valor do dólar em cerca de 200 bolívares, o chamado Simadi,
que era para ser uma taxa de mercado, e se tornou também defasada. Mas é o país
mais caro se a referência for a taxa de câmbio de 6,3 bolívares por dólar. E
ainda há outras duas taxas de câmbio que podem ser usadas. Um estudo recente do
banco de investimentos UBS sobre preços e salários em diversos países incluía
Caracas entre as 72 cidades pesquisadas, mas acabou eliminando-a em razão das
dificuldades para fazer um cálculo coerente.
O problema é que, na
prática, a Venezuela se transformou no país mais caro para a imensa maioria de
seus habitantes, cujos salários estão em bolívares e mal conservam seu poder
aquisitivo, pois não há dados de inflação, e o mais barato para quem poupa em
dólares, os consegue por vias legais ou chega ao país com eles.
0 comentários:
Postar um comentário