O empresário Marcos
Valério, principal operador do esquema do mensalão, pediu a líderes petistas
uma “compensação financeira” para que não citasse o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva em seus depoimentos sobre o sistema de compra de apoio político
no Congresso descoberto em 2005. O pagamento foi negociado com o senador
Delcídio Amaral (PT-MS) e fez com que Lula se mantivesse à parte das
investigações sobre o esquema, que motivou duas CPIs no Congresso Nacional e um
julgamento que, realizado em 2012, levou a antiga cúpula do PT, como os
ex-ministros e ex-presidentes do partido, José Dirceu e José Genoino, à cadeia.
As informações são de
reportagem da última edição da revista Veja, publicada no sábado (23).
Segundo a reportagem,
Valério procurou Delcídio – presidente da CPI dos Correios, a que produziu as
maiores investigações sobre o mensalão – para fazer sua proposta de chantagem.
Falou sobre dificuldades financeiras e expôs suas condições. O encontro foi em
fevereiro de 2006, dois meses antes da votação do relatório final da CPI.
Segundo a Veja, após o encontro, Delcídio acionou lideranças como o então
ministro Antonio Palocci e Paulo Okamotto, amigo pessoal de Lula. Valério não
citou Lula à época – só falou sobre a possível ligação do ex-presidente com o
esquema em 2012, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) já promovia seu
julgamento. Em entrevista à Veja, Delcídio reconheceu o encontro, mas negou que
Valério tenha pedido dinheiro.
A revista cita que José
Dirceu, atualmente, “emite sinais” de que poderia falar mais sobre o mensalão e
ainda sobre o petrolão, do qual também é protagonista. “Não era eu quem
visitava a Granja do Torto nos fins de semana. O Lula devia falar das visitas
que o Valério fez à Granja do Torto”, disse Dirceu para um parlamentar
governista, de acordo com a reportagem.
O deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), que foi o relator da CPI dos Correios, falou à Veja e comentou sobre as pressões que vivia à época. “Eles [os petistas] colocariam o ‘exército’ na rua, como já ameaçaram, e o país viveria uma guerra civil”.
Veja expõe também a
“metamorfose” desempenhada por Lula em relação ao mensalão. O ex-presidente,
assim que o escândalo veio a público, tentou resumir o mensalão a um esquema de
financiamento irregular de campanhas eleitoral. Porém, menos de dois meses
depois, mudou o discurso: em agosto de 2005 falou que havia sido “traído por
práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento”.
Por fim, depois de deixar
o mandato, passou a definir como uma de suas metas na vida política o desmonte
da “farsa do mensalão”. A revista relembra o julgamento histórico de 2012 e o
papel dos ministros do STF Celso de Mello e Joaquim Barbosa para a condução do
caso. ”São eles, corruptores e corruptos, os profanadores da República, os
subversivos da ordem institucional, são delinquentes e marginais da ética do
poder, são infratores da ordem do Erário e trazem consigo a marca e o estigma
da desonestidade”, declarou Mello. No entanto, cita Veja, o mensalão foi
concluído pelo Judiciário sem que se houvesse uma indicação precisa de quem
tenha sido o beneficiário do esquema.
A reportagem é concluída
com um paralelo entre o mensalão e o petrolão. Veja destaca reportagem feita
pela revista em 2005 que mencionava nomes como os de Renato Duque e Augusto
Mendonça, que hoje ocupam lugares de destaque no sistema de desvio de recursos
da Petrobras.
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