Vergonha: Das 10 cidades do Brasil que pior atende a população com água encanada, 7 são da Paraíba.


Vladimir Chaves

No Dia Mundial da Água, a Paraíba é destaque na imprensa nacional por encabeçar a vergonhosa lista dos Estados que tem os municípios com os piores índices em água encanada. Entre as dez cidades do país com menores percentuais de atendimento a população com água encanada a Paraíba lidera com sete municípios, inclusive com a primeira colocação, Baraúnas, apenas 0,15% das casas tem água encanada.

Os outros municípios que encabeçam a lista da vergonha são; Alcantil (2,94%), Santo André (2,14%), Tenório (1,83%), Santa Cecília (1,22%), Sossêgo (1,2%) e Assunção (0,77%).

Confira a integra da denuncia publicada pela Folha de São Paulo.

Cisterna é o melhor presente de casamento em cidade do sertão na PB

Três vezes por semana, ao menos, um vaivém na madrugada de caminhões-pipa do Exército carregados de água potável desperta uma cidade inteira do sertão paraibano.

Os veículos viajam até 86 km para captar o produto que abastece a maior parte dos 4.600 moradores de Baraúna (a 220 km de João Pessoa).

O município chegou ao final da última década (2010) com apenas 0,15% das suas 1.300 casas com água encanada, pior índice entre as 5.565 cidades do Brasil, segundo relatório do PNUD (agência de desenvolvimento da ONU), a partir de dados reunidos pelo IBGE.

No período, a taxa de cobertura do serviço caiu mais. Em 2000, era 0,36% o total de residências ligadas à rede.

A dona de casa Maria José Cassimiro, 61, gasta três horas toda vez que segue a uma das 13 cisternas comunitárias da cidade para encher e carregar sozinha dez baldes de 20 litros de água cada um para beber e cozinhar.

"Sou o homem da casa desde que o meu marido adoeceu. Não temos cisterna e para ter água é preciso todo esse esforço. Não queremos mais morar aqui", diz.
Só acessa as cisternas públicas quem não as tem em casa. O morador que conta com um reservatório precisa desembolsar até R$ 250 mensais para pagar um caminhão-pipa particular.
Para se viver bem em Baraúna, a comerciante Valquíria Vasconcelos cita um kit obrigatório: cisterna, bomba d'água e baldes. O primeiro item, diz, "é o melhor presente de casamento" por lá.

Castigado por uma estiagem que secou açudes, o lugar não vê um bom "inverno", como a chuva é conhecida na região, há quatro anos ininterruptos. O resultado: a produção agrícola de cereais minguou e forçou um êxodo rural de agricultores.

Quem resiste, faz malabarismos. O criador de cabras Francisco Firmino, 69, conhecido como Seu Chicó, tem moído espinho de mandacaru (tipo de cacto da região) com milho para fazer ração e manter os animais vivos.
"Já vendi 12 das 30 cabras por medo de não ter mais o que dar de comer a elas."

Na "lanterna" do ranking nacional de água encanada, Baraúna sofre com a paralisação, há mais de dez anos, da obra de uma adutora no açude Santa Rita, localizado a cerca de 8 km da cidade.

Segundo o vereador José Souza (PMDB), quando a construção, financiada pelo governo federal, parou, "canos e bombas foram alvo de furto e vandalismo."

A Folha entrou em contato com o prefeito reeleito Alyson Azevedo (PMDB) para comentar o caso, mas ele não atendeu as ligações. Em sua página na internet, a prefeitura diz ter o contrato de dois caminhões-pipa que também levam água à população.
Outras seis cidades paraibanas estão entre as dez com os menores percentuais de população atendida por água encanada no país: Alcantil (2,94%), Santo André (2,14%), Tenório (1,83%), Santa Cecília (1,22%), Sossêgo (1,2%) e Assunção (0,77%). Todas elas também são abastecidas por caminhões-pipa.


"Sem universalizar o serviço, o governo marginaliza uma população e cria, na figura do caminhão-pipa, um processo feudal de dependência muito usado como barganha eleitoral", comenta Carlos Tucci, engenheiro e consultor do Banco Mundial.

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