Futebol e ditadura andaram muito próximos na América
Latina. São muitos os casos em que governos se utilizaram do esporte para se
promover. Mas a utilização do esporte para fins políticos não parou na década
de 1970 e pode ser percebido também na democracia. Sob o tema Futebol e
Ditaduras na América Latina, o assunto foi discutido na 2ª Bienal Brasil do
Livro e da Leitura.
"A gente constata que futebol e ditadura andaram
muito próximos. As ditaduras se valeram muito do futebol, em vários momentos,
como propaganda. Mas isso ocorre no regime democrático. Nas ditaduras, é claro,
é um processo mais objetivo e danoso, mas também acontece na democracia",
disse o historiador e jornalista Lúcio de Castro.
A Copa do Mundo, que começa em dois meses, é um exemplo
disso. "Em alguns campos, a gente está vivendo um estado muito
preocupante, próximo ao estado de exceção. Quando a gente fala em remoções de
favelas, a gente vive casos muito preocupantes", disse.
Castro comentou também as manifestações que ocorreram
em meados de 2013, durante a Copa das Confederações. Ele criticou a forma como
o governo está lidando com o assunto.
"Me preocupo muito: a partir dos protestos, se discutiu uma série
de leis que inclusive lembram o estado de exceção, nas quais você pode ser
preso só por estar se manifestando. Espero que a gente possa viver nas ruas o
que é um pais democratico".
Também presente no debate, o escritor e jornalista
uruguaio Eduardo Galeano não quis comentar especificamente as manifestações ou
a Copa, mas defendeu o futebol como
esporte. "O futebol não tem a culpa dos pecados cometidos em seu
nome". Galeano é autor do livro Futebol ao Sol e à Sombra, no qual mostra
que o futebol tornou-se um negócio lucrativo. Galeano descrede que, para além
das paixões, mitos, heróis, glórias e tragédias, o jogo tem um lado sombrio,
que envolve poderosos interesses políticos e financeiros.
Por outro lado, os debatedores ressaltaram que não
apenas as ditaduras utilizaram os jogos, mas também a população. Galeano citou
o Uruguai como exemplo. Foi em um estádio, a primeira manifestação contra o
golpe no seu país. "O povo estava mudo pela agressão. Mas foi num estádio
lotado, não tinha nenhum lugarzinho, nem microscópico, que começaram a gritar
pela primeira vez: Se vá a acabar, se vá a acabar la dictadura militar".
Sobre o futebol atual, o jornalista Mário Magalhães,
autor da biografia Marighella – O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo, destacou
a exclusão nos jogos. "Na Copa das Confederações, não se via o Brasil, em
toda a sua diversidade, nos estádios, parecia que a população era europeia,
todos brancos", disse, atribuindo o fato ao alto preço dos ingressos.
"Tem toda uma geração de jovens que acompanha o futebol só pela televisão,
que não vai aos estádios".
A 2ª Bienal do Livro tem entrada franca e prossegue em
Brasília até o dia 21 de abril.
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