A teimosia de uma parte do
eleitorado brasileiro que insiste em apontar Marina Silva com algo próximo a
27% das intenções de votos para Presidente da República (última pesquisa
Datafolha) — diante de uma queda abrupta de Dilma Rousseff, que caiu de 44% para
38%; um pré-coma persistente de Aécio Neves, congelado em 16%; e o baixo crescimento de Eduardo Campos —
precisa ser explicado pela correntes mais profundas que cortam a vida política nacional.
Três caminhos políticos
disputam o imaginário popular. Lula e os ventrículos do PT, inclusive Dilma,
insistem na tese de que os progressos na área social, na educação, no plano
internacional e na distribuição de riquezas precisam continuar. Usam o
espantalho do legado de FHC e da aliança PSDB/DEM para praguejar contra a velha
direita e espalhar o medo do retrocesso. FHC, hábil como toda velha raposa,
empunha o estandarte da união das oposições para derrotar o descalabro petista.
Ao mesmo tempo em que cobra da população uma autocrítica histórica pelo
“gravíssimo erro de ter preterido os príncipes do tucanato em favor do sapo
barbudo”, enfileira toda a oposição atrás de Aécio Neves, ungido pelo seu
discurso como único oposicionista viável. A terceira tática vem das ruas
saturadas de mal estar que elegeram Marina Silva expressão do seu
descontentamento com a velha política. Essa identidade é que faz dela a maior
força eleitoral dentre os oponentes do governismo.
Curiosamente a nossa
aliança PSB/Rede Sustentabilidade padece do dilema hamletiano: Ser ou não Ser?
Qual alternativa ser, com o que se identificar, que caminho seguir? Enquanto Eduardo Campos não se livrar desta
crise de identidade não conseguirá superar o bloco PSDB/DEM que hoje é o
expoente de uma oposição previamente derrotada porque simboliza de fato o tempo
passado.
Vejamos o caso de São
Paulo: o presidente regional do PSB, Márcio França, insiste em dizer que, no
maior colégio eleitoral do país, a melhor alternativa política para candidatura
presidencial de Eduardo Campos é não ter palanque próprio, não ter candidato a
governador e dividir o palanque de Geraldo Alckmin. Argumenta que há muita
insatisfação na base do PSDB de São Paulo, vendendo a ilusão de que parte
significativa da estrutura do governo tucano paulista poderia se empenhar em
favor da eleição de Eduardo Campos. Imagine a pressão de Fernando Henrique e
Aécio Neves numa campanha nacional polarizadíssima de um lado, e de outro lado,
no plano regional, os efeitos do racionamento da água e da abundância do
escândalo do metrô em pleno processo eleitoral. Nada mais falacioso do que esta
ideia de que a candidatura de Eduardo Campos poderia se beneficiar deste
palanque. Na melhor das hipóteses Eduardo se juntaria ao abraço dos afogados em
São Paulo. Como plano “B”, Márcio França lançou seu próprio nome ao governo
paulista. Reedita os tempos de Arena 1 e Arena 2 e se posiciona como sublegenda
do PSDB paulista. Com esse conteúdo político, o PSB em vez de ter candidatura
própria, tem na verdade uma candidatura imprópria que antecipa a aliança com os
tucanos.
O que dizer de Minas
Gerais onde o PSB promete coligar-se com Pimenta da Veiga, do PSDB, em plena
terra de Aécio, segundo maior colégio eleitoral do país, transformando-se em
sublegenda do tucanato. Como convencer o povo mineiro de que o governador de Pernambuco
está disputando para valer a eleição presidencial?
Enquanto isso, a imensa
parcela da população brasileira que caminha pelas ruas em busca de uma
alternativa capaz de derrotar o PT segue olhando para frente, mesmo depois do
enjoo, da náusea provocada pela combinação de desmando e escândalo que
transborda de todos os poros da política. Por isso insiste em se identificar
com Marina Silva. Os números da última pesquisa Datafolha deveriam levar o
governador Eduardo Campos a refletir sobre sua tática eleitoral em São Paulo e
Minas Gerais e escolher o caminho da disputa real agora, enquanto é tempo. Se abandonar a procura de contato com esses
milhões que não se identificam nem com o PT e nem com o PSDB, Eduardo estará
jogando fora o que Marina Silva trouxe nas mãos como um gesto de clarividência
para lhe entregar gratuitamente. Se quiser ganhar a eleição ele terá de decidir
se é capaz de saltar do penhasco e voar, ou, se ao contrário será como o
pássaro descrito por João Cabral de Melo Neto: “Nascido para inaugurar caminhos
no campo azul do Céu e que, entretanto, no momento de alçar-se para viagem
descobre com terror que não têm asas.”
Martiniano Cavalcante é
engenheiro civil formado pela UnB, membro da Executiva Nacional e um dos
fundadores da Rede Sustentabilidade.
0 comentários:
Postar um comentário